Eu leio de tudo: panfleto, manual de espremedor de laranja, bula de remédio, embalagem de papel higiênico, notinha de supermercado, qualquer coisa. Até livro de Engenharia, de vez em quando, eu leio. E o pior: critico tudo. Como se eu tivesse alguma "otoridade" pra criticar alguma coisa.
Mas eu gosto mesmo é de ler livros que foram adaptados pro cinema. NUNCA vejo o filme antes de ler o livro, esta é a regra #1. A regra #2 é que eu nevah nevah evah vou ler Senhor dos Anéis e não tente me convencer do contrário.
Fico muito puta quando vejo um filme ótimo e depois leio nos créditos "based on a novel by Fulano". Devia ter lido o livro antes, cacete! Da última vez isso aconteceu com Atonement. Puta filme bom. Me lembrou Pride And Prejudice, que é baseado no romance homônimo da Jane Austen. Puta livro bom. Esse filme ficou chatíssimo, mas o livro é imperdível, como são todos da Austen.
Mas eu ia contar era que comecei a ler Ensaio Sobre a Cegueira, do José Saramago. Tava lendo Os Maias, mas como o livro do Saramago não é meu, deixei pra terminar o do Eça quando voltar pro Brasil.
Ambos os livros (Os Maias e o Ensaio) são literatura portuguesa. Os Maias é do final do século XIX e foi adaptado pra tv pela Globo (ainda quero ver!). O Ensaio Sobre a Cegueira virou filme recentemente e foi publicado em 1995. E, claro, a linguagem dos dois é muito diferente.
O livro do Eça é quase tão difícil de ler para portugueses quanto é para brasileiros. É aquela coisa certinha, padrão, com vocabulário da época. Só não é tão difícil pro pessoal de cá porque ainda fala-se em Portugal muitas das expressões e construções que têm no livro. As construções das frases são lindas, o enredo é ótimo, e a forma como a história é contada é uma delícia! Adoro esses romances antigos, confesso. E adoro as críticas floreadas com eufemismos.
Mas o livro do Saramago tem uma linguagem muuuito atual, com um vocabulário super corriqueiro - ou vulgar, como se diria aqui. Só que é corriqueiro e atual só pra quem mora em Portugal, porque é MUITO diferente do português falado no Brasil. Não só pelo vocabulário, mas também pelas conjugações verbais, a aplicação dos pronomes, o "ritmo" da frase, tudo, tudo é diferente. Se eu nunca tivesse vindo a Portugal, acharia o livro ótimo, claro, mas não ia conseguir "pegar" colé a dele, sabe? Porque a mágica do livro é que ele é escrito exatamente da maneira como as pessoas falam na rua, com um esquema de pontuação com vírgulas (infinitas vírgulas) e pontos finais que dão um ritmo pra leitura que só quem tem familiaridade o sotaque português entende. É simplesmente GENIAL. Vocabulário e verbos cotidianos ficam lindos no livro que, é mesmo isso, tem ritmo! Até parece musicado.
Só que o que é vulgar em Portugal soa um bocado "formal demais" no Brasil: os verbos, os pronomes... Sem falar nos nomes das coisas que são todos diferentes! Alguém sabe se O Ensaio Sobre a Cegueira ganhou uma versão "traduzida" no Brasil? Sério, eu não conseguiria ler. Terceira frase do livro: "Na passadeira de peões, surgiu o desenho do homem verde." Eu levo uma caixa de Green Tea pra quem souber o que é "passadeira de peões" sem olhar no Google (não vale pro Flávio). Ok,
"casa de banho" dá pra saber o que é, mas e "tê-las-á deitado em algum sítio"? Duvido que alguém entenda isso como deve ser.
Enfim, o livro é foda. Recomendo. Mas recomendo ler com um dicionário português na mão.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
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3 comentários:
An... não sei se é a inspiração, mas seus textos estão cada vez melhores Mari. São gostosos de se ler, tem ritmo, assim como a escita de Saramago! =)
Eu terminei de ler esse livro a menos de um mês. Realmente, pra alguém que nunca foi a Portugal como eu, fica meio difícil entender algumas expressões, mas eu adorei ler o livro assim mesmo. Adorei a maneira como foi escrito, com os diálogos encaixados nos meios dos parágrafos, e mais ainda, adorei o monte de palavras que eu nunca tinha ouvido.
Muito bom mesmo! :)
sou doido pra ler ele!
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