(Sim, hoje é um dia ocioso)
Preguiça. Preguiça infinita do mundo hoje.
Preguiça desse lugar que tem velhos como o centro de Belo Horizonte tem baratas: para cada um que morre, cinco aparecem, e aparecem por todos os lados, saídos de todos os buracos. E são chatos, e falam estranho, e furam filas, e andam com lenços de pano no bolso para escarrarem uma centena de vezes por dia.
Preguiça de gente que só reclama e nada faz. Preguiça de mim, que passo três quartos da vida reclamando. Reclamo até em sonho, e isso dá preguiça demais.
Tenho preguiça de gente que não canta. Gente que gosta pra caralho da música e fica lá, com ar blasé e superior, como se nada sentisse. Preguiça de quem não dança, não pula, não canta esganiçado, não fecha os olhos e expressa alguma coisa, qualquer coisa, quando ouve uma música que gosta muito. Só pra manter a pose. Só pra não suar a roupa. Só por ter vergonha.
A propósito, preguiça de gente que fala um zilhão de línguas, inclusive as mortas. Não pelo conhecimento em si, porque eu gostaria de saber falar um zilhão e meio de línguas. Mas porque essas pessoas geralmente são chatas. Vomitam muita cultura e informação que no fim das contas são meaningless pra si. Servem para impressionar: os amigos, os parentes, o chefe, o amigo do amigo, a paquera…
E estudantes de design?! E torcedores de futebol?! E representantes de classe?! Preguiiiiiiiça!
Preguiça de pessoas que têm dinheiro e não sabem o que fazer com ele. Preguiça de gente que tem no currículo mil viagens à Europa e aos Estados Unidos e não têm a menor noção do que significa ser alguém interessante sem ser pedante. Aliás, não têm a menor noção de nada, nem de quanto custa a caixa de sabão em pó e nem de que inteligência não tem nada a ver com quantos anos de estudo se teve. Nem burrice.
Preguiça de quem precisa de grandes motivos pra ser feliz. Pão quente na padaria, uma manhã de sol, uma música boa e inesperada no elevador, uma vista bonita da janela, um abraço, um SMS… Nada é o bastante pra essas pessoas. Não basta uma manhã bonita de sol, tem que ser uma manhã bonita num hotel 5 estrelas de Paris bebendo chá indiano ao lado do senhor doutor especialista em… blá! Aliás, não basta isso, porque bem que poderia ser verão… E se é verão, bem que poderia estar fazendo menos calor… Ou mais calor… Ou ser domingo… Ou ter adoçante… Ou ser azul… Nunca é o bastante pra ser feliz, nada é bom demais para merecer um sentimento de euforia.
Mais que qualquer coisa, preguiça de gente muito racional. Que faz tudo planejadinho, certinho, e que odeia coisas do tipo “vamo esquecer esse negócio de praia e vamo AGORA pra Lisboa comer um pastel de Belém?”. Gente que planeja quando vai ao banheiro. Gente que não chora, não sente, não ri alto, não dança, não se emociona, não se surpreende, não se satisfaz. Gente que só faz sexo se isso foi agendado há pelo menos 72h. Gente que acha tudo normal e nunca tem vontade incontrolável de tomar sorvete. Preguiça. Preguiça infinita.
Preguiça de quem não sabe o que é perder o controle – para o bem ou para o mal.
quarta-feira, 9 de julho de 2008
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4 comentários:
Maaaaari!
QUE TEXTO LINDOOO!
Ow, me identifiquei demais com tudo isso! Olha, fazia tempos que eu não via uma coisa tão bonita por aqui, me lembrou de quando eu te conheci!
Coisa linda que é esse seu sentimento, viu?
Eu tenho preguiça disso tudo que você falou, principalmente de gente que fica pagando de cult. Cult de cu é rola!
E porque tá num dia ocioso? Vai pra praia ouvir música e ficar olhando pro mar... ah e eu pudesse...
Eu ia dizer quase a mesma coisa que o PH. Ficou realmente muito legal, muito bonito.
Portugal inspira tanto as pessoas, queria ir praí amanhã, hahaha
Minha prima e uma amiga ficaram um ano aí e voltaram muito diferentes. Pra melhor, com certeza.
Acho que com você não tem sido diferente!
:)
Nossa, foda. Falou tudo!
Lindo texto... Mesmo.
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