quinta-feira, 24 de julho de 2008

Mal humor

Hoje acordei meio de mal humor. "Ah, novidade..." Novidade mesmo! Eu ando super bem humorada aqui, vou super tentar manter isso no Brasil.

Mas tem coisa que não tem jeito, não consigo suportar. Por exemplo, odeio que conversem comigo quando eu tô calada, quietinha no meu canto, e não tô a fim de abrir a boca. Ainda mais se for no ônibus. Eu fecho os olhos, viro a cabeça pro lado, coloco fone no ouvido, e ainda vem aquele sem noção me cutucar pra interromper meu sossego e fazer um comentário idiota qualquer. Ganha uma bela ignorada, ou, na melhor das hipóteses, um sorriso bem amarelo como resposta.

Outra coisa é deficiente físico folgado. Respeito tá longe de ser sinônimo de ter que aguentar falta de noção alheia, como se o mundo tivesse que girar em torno da perna amputada do sujeito. E a deficiência vira desculpa pra todo tipo de insulto e mal humor, como se a culpa fosse minha, como se andar sem muletas fosse crime ou algo assim. Foi mal, sinto muito que você não consiga se locomover normalmente, mas oi?, será que dá pra ser mais educado?

Odeio ainda mais conversar sobre o Brasil com gente que fugiu da aula de Geografia, ou que foi a Fortaleza e não consegue aceitar que São Paulo é diferente. A grande maioria aqui tem plena noção do tamanho, da diversidade e do desenvolvimento do Brasil, e eu gosto muito de conversar com essas pessoas. Com elas aprendo coisas que nem eu sabia, é mesmo giro. Mas sempre tem o engraçadinho que insiste na merda:

- Então, deves tar a estranhar a temperatura, pois não?
- Não, 25 graus é bem agradável.
- Ah, mas isso pro Brasil é frio.
- Não, não é mesmo.
- Mas lá faz 40 graus.
- Faz. Mas é no verão e depende do lugar.
- Não, não, clima tropical faz calor sempre.
- Cara. Não. Não faz. Faz friozinho no inverno.
- Mas estás a estranhar, não?
- Não, eu moro mais pro sul, quando saí de lá tava bem mais frio do que tá aqui agora.
- Ah, mas vosso inverno é de 20 graus.
- Faz mais frio que isso, na verdade.
(Mais comentários, mais sorrisinhos amarelos...)
- Gostava de ir ao Brasil, mas tenho medo de pegar malária.
- (Nesse momento eu já desisti da discussão e faço tudo pra encerrar a conversa.) Pois.
- E tem a... a... como chama? Dengue, né?
- É. Pois.

Não sei se é porque esse mesmo diálogo se repete pelo menos umas 5 vezes por semana, mas não aguento mais falar que não, não faz 40 graus em Belo Horizonte, muito menos o ano inteiro. Não, não moro na praia. Não, não tem água quente no país inteiro. Não, "rapariga" não é "puta" pra todo mundo. Não, eu não falo "aêm, siniiixtro mermão!". Não, nem todo gay é travesti. Não, eu não conheço aquele seu primo carioca, nem a sua amiga goiana, nem nunca ouvi falar na padaria que seu ex-vizinho montou em Salvador, e não adianta, eu não sou parente daquele sobrinho do colega do Manuel que mora lá na minha zona: Minas Gerais tem 20 milhões de habitantes (chute!) espalhados num lugar do tamanho da França! Sinto decepcioná-lo, senhor egocêntrico de muletas que me acorda no ônibus para agraciar meu dia com tão agradável diálogo, mas será que o senhor poderia ir, se não for incomodar muito, se foder?!

Um comentário:

Anônimo disse...

Ahahaha, eu sei como é esse seu mal humor, coitado do deficiente, heheh. Se bem que esse papo é um saco, ô povo desinformado!