terça-feira, 8 de novembro de 2005

Quando ele saía de casa, não se sentia muito atraido pelas moças. Não gostava delas quando as via na sorveteria. Não queria mesmo nenhuma delas. Eram muito complicadas. E tinha mais. Ele queria vagamente uma moça, mas não queria se esforçar para conquistá-la. Gostaria de ter uma namorada, mas não queria gastar tempo para consegui-la. Não queria entrar no mundo dos cochichos e dos mexericos. Não queria cortejar. Não queria contar mais mentiras. Não valia a pena.

Não queria conseqüências, nunca mais. Queria levar a vida sem conseqüências. Aliás, não queria mesmo namorada. Aprendera isso no exército. Pode-se fazer de conta que se tem namorada. É engraçado. Primeiro o camarada diz com ar altivo que as mulheres nada significam para ele, que nunca pensa nelas, que elas não conseguem pegá-lo. Depois outro camarada diz que não pode viver sem mulheres, que precisa delas o tempo todo, que não pode dormir sem elas.

É tudo mentira. É mentira nos dois sentidos. Quem não precisa de mulheres não pensa nelas. Krebs aprendera isso no exército. Mas um dia se arranja uma. Quando se está amadurecido para mulher, sempre se consegue uma. Não é preciso ficar pensando nela. Mais cedo ou mais tarde ela aparece. Aprendera isso no exército.


(A volta do soldado; Hemingway, E.)

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